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Segunda-feira, 8 de Outubro de 2012

O Principezinho

 

 

Recentemente tive a oportunidade de partilhar, numa conferência que proferi na Nova Acrópole de Aveiro, com um grupo de pessoas a minha análise a uma das obras que considero "Património da Humanidade", "O Principezinho". Por ter sido uma experiência marcante para mim, senti a necessidade de partilhar com quem sentir vontade de aprender, pois esta obra é um encantador relato dedicado às crianças e não só… às crianças que existem dentro de cada um de nós, adultos, também. Mostra-nos uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós entregamo-nos às nossas preocupações diárias, tornamo-nos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.



Análise da obra


Não nos esqueçamos que “O Principezinho” é uma obra infantil com conteúdo aparentemente simples, no entanto profunda, que contém todo o pensamento e filosofia de Saint-Exupéry.

É um encantador relato dedicado às crianças e não só… às crianças que existem dentro de cada um de nós, adultos, também. Aos elementos fantásticos da obra juntam-se-lhe certos traços de psicologia, nela tratam-se ideias tão profundas como o sentido da vida, a amizade, o amor e a simplicidade, nesta obra confluem uma série de demonstrações de atitudes que permitem a revalorização dos valores como eixos fundamentais para o indivíduo viver em sociedade. Mostra-nos uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Entregamo-nos às nossas preocupações diárias, tornamo-nos adultos de forma definitiva e de certa forma esquecemos a criança que fomos um dia.

Esta obra mostra-nos através das conversas que o piloto tem com o principezinho a visão do autor sobre a superficialidade da humanidade e a sabedoria inocente que os adultos parecem esquecer à medida que crescem. É que como podemos ver na obra, quando somos meninos estamos munidos de um certo grau de curiosidade e admiração pelas coisas que nos impulsionam para a descoberta, mas à medida que vamos crescendo vamo-nos afastando desta capacidade pouco a pouco, vamos perdendo a capacidade de tirar proveito das coisas simples do nosso dia-a-dia.

Toda a obra é um diálogo muito especial que se vai desenrolando entre as diferentes personagens, que se baseia numa linguagem muito poética, simbólica e aparentemente muito simples, mas que pouco a pouco se vai transformando numa linguagem de ensinamentos de vida que nos ajudam à compreensão e valorização, tanto das coisas simples como das mais complexas.

Exupéry através de símbolos demonstrou que é sempre importante lembrarmos os sentimentos anteriormente citados, valores que mesmo que fossem explicados aos adultos com palavras não seriam compreendidos. Então, o papel das diferentes acções ao longo da obra é mostrar nas “entrelinhas” o importante.

Exupéry utilizou esses símbolos para representar os sentimentos guardados dentro de si através desta obra maravilhosa.

Para melhor percebermos a riqueza de ensinamentos que esta obra encerra, vamos analisar o significado de algumas das suas personagens metafóricas da mesma.


Principezinho

  • Inocente e amigo
  • Extraordinário e misterioso
  • Curioso e divertido
  • Persistente, trabalhador e decidido

Simboliza a esperança, o amor e a força inocente da infância que habita no nosso inconsciente. É portanto símbolo da inocência, do idealismo, dos sentimentos puros e altruístas, atributos que fazem parte da infância.

Ele simboliza o indivíduo que traça o seu próprio destino, que trilha o seu próprio caminho sem esquecer a capacidade de reconhecer que “o essencial é invisível aos olhos”. Dentro de cada um de nós, está intacta, mas muitas vezes menosprezada uma criança, a criança que fomos um dia, aquela que é conhecedora devido à sua inocência da Verdade, aquela que tem a capacidade de nos fazer resgatar o amor e o entendimento com os demais. Ele tem imaginação, pureza, ingenuidade, sensibilidade, poeticidade, tudo atributos que hoje em dia não são valorizados pela maioria dos adultos.

O Principezinho é uma demonstração de que a simplicidade trás mais alegrias do que a superficialidade.

Com as suas palavras e os seus actos, questiona o mundo e os seus aspectos negativos, mas também faz uma chamada à descoberta da beleza da vida e à importância da imaginação, à esperança e a tudo o que nos permite superar-nos. Ele deveria representar para todos nós um arquétipo, um ideal a atingir.

Este é o principal simbolismo do principezinho: a capacidade para ver além de… e como prova brindo-vos com um pequeno parágrafo da obra:

 

“Nunca tinha desenhado uma ovelha e resolvi fazer-lhe um dos dois únicos desenhos de que era capaz. O da jibóia fechada. E fiquei estupefacto com as palavras de protesto dele:

- Mas para que é que eu quero um elefante dentro de uma jibóia? As jibóias são muito perigosas e os elefantes muito incomodativos. O meu sítio é muito pequenino… Preciso é de uma ovelha. Desenha-me uma ovelha.”

 

O Piloto

  • Eterno solitário
  • Imaginativo
  • “Camaleão”


Representa a nossa própria imagem, o nosso reflexo na história e é ele que nos faz ver como deveríamos ver as coisas e como na realidade as vemos.

O piloto viu a sua sensibilidade artística e a sua capacidade de ver além das aparências diminuídas por aqueles que se tinham entregado à monotonia dos seus pequenos mundos, os adultos. Mas anos depois, longe de todos, desenha a sua própria história com a ajuda daquele que deixou o seu mundinho de lado para entrar nos mundos dos outros e aprender com eles. Tocado pela ingenuidade e simplicidade do principezinho, o piloto redescobre os seus talentos e desperta para a beleza das coisas simples,dos sentimentos, dos valores e também da causa do próprio egocentrismo das pessoas. Foi obrigado a crescer antes do tempo, o que o tornou um solitário por natureza. Foi obrigado a adaptar-se ao meio circundante, a camuflar-se tal como um camaleão quando se sente em perigo, mas de certa forma, sempre que encontrava alguém que lhe parecesse sensato e sensível mostrava o seu desenho de menino na esperança de que o compreendessem.

O piloto é a prova de que nunca é tarde para irmos atrás dos nossos sonhos. Sejamos como ele e resgatemos o principezinho que existe dentro de cada um de nós, pois a sua principal função na obra é mesmo essa, mostrar-nos que todos temos um pouco de si mas também muito do Principezinho.

 

“ As pessoas crescidas disseram que era preferível deixar-me de jibóias abertas e jibóias fechadas e dedicar-me à geografia, à história, à matemática e à gramática. E assim abandonei, aos seis anos de idade, uma magnífica carreira de pintor. Ficara completamente abalado com o insucesso do meu desenho número um e do meu desenho número dois. As pessoas crescidas nunca entendem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo.”

 

O astrónomo turco

  • Pessoa simples
  • Não se preocupava com as aparências

Esta personagem representa o facto de que a sociedade dá valor ao indivíduo humano pelo que veste, pelo que possui e não pela sua sabedoria. Por isso ele é desprezado pela comunidade científica até aparecer com roupas elegantes. Isto é um erro, pois objectivamente tem tanta fiabilidade, um homem que explica uma teoria vestido com uns jeans, uma sweat e sapatilhas como um homem de fato e gravata. O facto de julgarmos as pessoas pela aparência é errado, pois esta não se torna mais ou menos credível pela roupa que tem ou pelo carro que conduz. Como costumo dizer, o importante é o “ser e não o “ter”.

 

“Nessa altura, o cientista fez uma grande demonstração da descoberta a um Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido. As pessoas crescidas são assim.

Felizmente, para a boa reputação do asteróide B612, um ditador turco lembrou-se de impor ao seu povo, mas impor-lhe sob pena de morte, que passasse a trajar à ocidental. O astrónomo turco tornou a fazer a demonstração em 1920, agora muito bem-posto. E toda a gente a aceitou.”

 


Os embondeiros

  • Árvore da altura de uma igreja
  • Açambarcadores
  • Perigosos

 

Como todos sabem, os embondeiros são umas árvores gigantescas que se o Principezinho não arrancasse os seus rebentos eles cresceriam e tomariam conta do seu planeta; não sobraria espaço para mais nada.

Podemos então dizer que estes representam a avareza, pensemos… se numa comunidade se partilha e se busca o bem comum, o mundo pula e avança, enquanto que se nessa mesma comunidade cada um se preocupa simplesmente pelos seus próprios interesses sem um projecto em comum, não se consegue avançar, antes pelo contrário, essa comunidade tornar-se-ia estéril e acabaria por se destruir, pois onde só existem predadores é impossível haver progresso.

Se quisermos analisar a título pessoal, individual, podemos concluir que o autor nos quis chamar à atenção para não sermos preguiçosos e não deixarmos para amanhã os pequenos problemas de hoje, os dragões que nos atormentam, pois estes crescerão paulatinamente até que um dia se tornam gigantescos.

Há que trabalhar individualmente, fazendo a escolha, a separação das “ervas boas” e das “ervas más”, e assim que as conseguirmos identificar não percamos tempo, há que as arrancar pela raiz para não as deixarmos tomar conta do nosso ser interior. Há que estar atentos pois se só identificarmos um problema quando este for grande demais ele apoderar-se- á de nós.

Os embondeiros representam então, por um lado, aquilo que de negativo existe em cada um de nós, os maus hábitos, os maus sentimentos, as más ideias, que de resto já sabemos que este tipo de característica é persistente, fica à espera que baixemos a guarda e quando menos esperamos brotam e tomam conta de nós. Tal como os embondeiros destroem as outras plantas ao seu redor, também os nossos defeitos ofuscam as nossas virtudes, por outro lado, os embondeiros representam também aquelas pessoas que ocupam demasiado espaço na vida de cada um e que não deixam margem para a individualidade ou a privacidade. São como as ervas daninhas. Impedem, inclusive a criatividade de florescer. São aquelas pessoas que se colam a nós como pastilha elástica e que tentam moldar-nos à sua imagem, impedindo-nos assim de sermos um ser individual, de sermos um entre mil. Também podem simbolizar a pressão social, que molda a nossa personalidade, as nossas atitudes e condiciona de certa forma as nossas escolhas.

Poderemos ainda fazer uma outra analogia. A limpeza quotidiana do planeta é um exercício de disciplina, podemos dizer que o planeta representa o nosso ser, e ao limpá-lo nós somos um discípulo que busca a perfeição; este trabalho é um exame de consciência de que é necessário obrigar-se regularmente a “arrancar” os pensamentos negativos, o supérfluo de nós. Há que separar o trigo do joio, se não queremos perder a seara inteira. Por isso muita atenção, desde a juventude da árvore, desde que espreitam a terra e saúdam o sol. Estejam atentos, defendam-se dos falsos valores. Tomem cuidado com os embondeiros.

 

“E um dia pediu para eu me esforçar tanto quanto pudesse para fazer um desenho mesmo bom capaz de meter uma ideia na cabeça dos meninos da Terra. “Pode dar-lhes muito jeito, se eles forem viajar. Às vezes não faz mal nenhum deixar um trabalho para depois. Mas, com embondeiros, é sempre uma catástrofe. Uma vez fui a um planeta habitado por um preguiçoso. Não esteve para se ralar com três arbustos…

Desenhei o tal planeta segundo as indicações do Principezinho. Não gosto nada de parecer moralista. Mas o perigo que os embondeiros representam é tão pouco conhecido e são tão grandes os riscos a que se expõe alguém que se perca num asteróide que, uma vez sem exemplo, vos digo: “Meninos! Cuidado com os embondeiros!”



A Rosa

  • Inteligente
  • Soberba
  • Manipuladora
  • Sedutora

No entanto…

  • Generosa

A rosa simboliza segundo o dicionário de símbolos de Jean Cheválier a taça da vida, a alma, o coração, o amor, enfim representa no fundo a perfeição. Esta tornou-se um símbolo do amor e o próprio dom do amor em si, e por isso, ainda hoje em dia se oferecem rosas como prova de amor, de carinho, de amizade... Vários autores defendem que a rosa é símbolo da esposa Consuelo, representando portanto o amor, o feminino, a sedução e os demais atributos associados à mulher.

Na obra, pessoalmente creio que por um lado representa a amizade quando já existe uma confiança plena e um respeito mútuo entre as pessoas. Por outro pode também representar o orgulho pessoal.

Aparece como sendo à primeira vista inteligente, soberba, manipuladora, sedutora, querendo todas as atenções recaídas sobre si, no entanto, as suas acções mostravam o contrário, pois na verdade como o principezinho mais tarde reconhece:

 

“Não fui capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas palavras e sim pelos actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca devia ter fugido! Devia ter sido capaz de adivinhar toda a ternura escondida por detrás daquelas pobres manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era novo de mais para saber gostar dela.”


Há que saber ler nas entrelinhas, por vezes o orgulho é sinónimo de carência de amor, e a contradição sinónimo de insegurança, então, creio que com esta personagem Saint-Exupéry pretendia apelar ao amor apesar das circunstâncias. Na obra, a Rosa dá-lhe uma prova do seu amor, apesar do Principezinho não a ter percebido, porque quem ama liberta, e a rosa mostrou o seu amor incentivando-o a ir embora enquanto na verdade ela queria que ele ficasse. Se realmente fosse manipuladora e egoísta, teria usado todas as suas capacidades para o impedir de partir.

 

“- E o vento?

- Não estou tão constipada como isso… O fresco da noite só me pode fazer bem. Sou uma flor!

- E os bichos?

- Duas ou três lagartas terei mesmo de suportar para ficar a conhecer as borboletas. Dizem que são tão bonitas! E que outras visitas hão-de aparecer por cá? Tu, tu hás-de estar longe. E dos bichos maiores não tenho nada a temer. Afinal, para que servem as minhas garras?”


Por vezes as pessoas também têm formas estranhas de mostrar o amor. Pois a rosa representa estas pessoas, aquelas que mesmo contra o seu coração se fazem fortes para incentivar o seu amor a buscar o melhor, mesmo que para isso fiquem sozinhas.

A Rosa desempenha uma função muito importante na obra, digamos que pode inclusive ser a verdadeira raiz da obra. Tudo acontece devido à sua existência, a partida do principezinho, a sua tristeza, a sua busca, o regresso ao seu planeta, tudo se centra nela.

Então porque é ela importante para o Principezinho? Podemos dizer que é importante...



Pela sua individualidade


“Amar uma flor de que só há um exemplar em milhões e milhões de estrelas basta para uma pessoa se sentir feliz quando olha para o céu. Porque pensa: “Ali está ela, algures lá no alto…”


Pela sua fragilidade


“- Não acredito! As flores são fracas. São ingénuas. Agarram-se ao que podem para se sentirem seguras. Estão convencidas de que toda a gente tem medo delas por causa dos espinhos…”

“E se eu, eu que aqui estou à tua frente, conhecer uma flor única no mundo, uma flor que não existe em mais lado nenhum senão no meu planeta, mas que, numa manhã qualquer, uma ovelhinha pode reduzir a nada num instante, assim, sem dar sequer pelo que está a fazer, isso também não tem importância nenhuma, pois não?


Pela sua unicidade no seu planeta


“Não ocupavam espaço nenhum e quase não se dava por elas. Despontavam de manhã na relva e apagavam-se à noite. Mas aquela, aquela germinara de uma semente vinda sabia-se lá de onde e o principezinho pusera-se imediatamente a vigiar esse rebento tão diferente de todos os outros.”


Pela sua personalidade


“O principezinho, que assistia ao despontar de um botão enorme, estava mesmo a ver que dali ia sair uma aparição miraculosa; mas a flor nunca mais acabava de se arranjar, de se por bonita, sempre trancada naquele quarto verde. Escolhia as cores com todo o cuidado. Vestia-se vagarosamente, assentando as pétalas uma a uma. Não queria sair toda amarrotada como as papoilas. Só queria aparecer no máximo esplendor da sua beleza. Oh, sim! Ela era mesmo muito vaidosa! Levara dias e dias a arranjar-se. Uma bela manhã, precisamente ao nascer do sol, fizera a sua aparição.”


Os vulcões

  • Úteis quando cuidados
  • Perigosos se esquecidos

Podemos dizer que todo o capítulo relacionado com os vulcões é uma clara analogia com os hábitos de higiene e purificação da alma. O autor pretende alertar-nos para a disciplina, mostrando-nos a assiduidade e o afinco com que o Principezinho cuidava do seu planeta; é uma chamada de atenção para a importância de limparmos o nosso ser interior; assim como todos os dias nos dedicamos à estética do corpo, também devemos preocupar-nos com a estética da alma cuidando a nossa personalidade, limpando os nossos defeitos, aqueles que reconhecemos nitidamente como activos e também aqueles que pensamos extintos, pois se não fizermos uma manutenção regular, não estamos livres de nos voltarem a atormentar.

Há que identificar então no nosso planeta os vulcões activos e limpá-los diariamente evitando assim erupções. Quantos de nós poderão dizer que nunca perderam a calma perante uma ou outra situação, penso que ninguém, e isto acontece amiúde, porque somos preguiçosos, porque não fazemos esse exercício diário de atenção ao nosso ser interior. Por outro lado também representam as pequenas tarefas do dia-a-dia que muitas vezes não gostamos de fazer, mas se queremos que tudo corra bem há que desempenhá-las quer queiramos quer não. Neste capítulo faz-se muito a alusão ao trabalho, ao esforço, à constância e à disciplina.

 

“No dia da partida, quis deixar tudo em ordem e passou a manhã a cuidar do seu planeta. Varreu cuidadosamente por dentro os vulcões em actividade. Tinha dois vulcões em actividade. E davam imenso jeito, de manhãzinha, para aquecer o pequeno-almoço. Tinha mais um vulcão, mas extinto. Também varreu o vulcão extinto porque, pensou ele, “nunca se sabe…” Bem limpos, os vulcões ardem devagar e sem erupções.”

 

Os habitantes dos asteróides


Estes representam os adultos que absorvidos pela ambição, obsessão ou vício, muitas vezes se deixam cegar pela ambição de poder, de posição social, de dinheiro, de vaidade, ou pela dependência de algo, quer de álcool, de tabaco, de drogas, mas muitas vezes também somos dependentes de afectos ou atenção, representam então aqueles adultos que cegos de egoísmo se fecham em si mesmos. É interessante perceber também que mesmo as personagens que aparentemente representam falhas de carácter tem algo a ensinar-nos.

Em cada personagem, com as suas características, está uma alusão aos diversos tipos de pessoas, pois analisando podemos chegar à conclusão que a maioria do ser humano se ocupa com o que lhes convém, não se importando com os sentimentos alheios, mas simplesmente com os seus interesses, ideia esta que Saint-Exupéry sempre defendeu.

Falaremos agora especificamente das características de cada um, e vai ser praticamente impossível não nos retractar com uma ou outra característica das mesmas.

 

O Rei

  • Sábio
  • Autoritário
  • Cego de poder

O rei simboliza decididamente aquelas pessoas ávidas de poder, que pensam que tudo e todos são seus súbditos e que têm portanto o controlo sobre tudo.

Representa a autoridade, mas não esqueçamos que um rei só exerce o seu poder se houver alguém que se submeta, e cada vez são menos as pessoas que o fazem, pois não confiam nos governantes visto que hoje em dia estes governam pelo simples prazer de ordenar e não porque pensem no bem comum.

Por outro lado podemos por exemplo, associar o rei a um pai de família. Então este representa a autoridade máxima porque governa com razão e coerência, pois pensa no bem dos seus, ou então podemos deduzir que o autor nos queria ensinar que ninguém tem autoridade sobre outro uma vez que a decisão de fazer ou não fazer algo é exclusivamente de cada um e sendo assim, se temos esta liberdade, se temos este poder de decisão então não podemos culpar ninguém pelos nossos actos.

Também representa o verdadeiro sábio, porque ensina-nos que cada um só pode dar aquilo que tem, que a autoridade se baseia no bom senso e que portanto se se quer governar tem de se fazê-lo de acordo com as necessidades do homem.

 

“Só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar. A autoridade baseia-se, antes de mais, no bom senso. Se um rei ordenar ao seu povo que se deite ao mar, ele revolta-se. Eu, eu tenho o direito de exigir obediência porque as minhas ordens são sensatas.”


O Vaidoso

  • Vaidade
  • Insegurança

Ao dar-nos a conhecer esta personagem o autor pretende mostrar-nos que há pessoas que só vêem o que querem ver e só ouvem o que querem ouvir, que buscam elogios em todo o lado, e mais, que necessitam desses elogios para sobreviver. O vaidoso é aquele que necessita da admiração de todos para comprovar o seu valor.

Representa também a vaidade, a necessidade que os demais nos admirem nem que seja pela superficialidade, isto é, pela roupa que vestimos e pelos bens que possuímos.

Como disse esta personagem encarna o desejo de reconhecimento e admiração da sociedade. Representa de certa forma o egoísmo e faz-nos reflectir sobre o número de vezes que agimos sem ter em conta os desejos ou necessidades alheias. Lembra-nos que a vaidade é um defeito que todos nós manifestamos uma e outra vez, quando pensamos que somos melhores que o os demais; É um alerta à reflexão, à reflexão que as nossas acções provocam reacções e que como tal, mais tarde ou mais cedo podem levar-nos a ficar sozinhos.

Saint-Exupéry pretendia alertar-nos a observar e a observarmo-nos, pois não se pode pretender admiração se nós próprios não nos conhecemos, isto é, temos que aprender que a verdadeira beleza não reside no externo, ela habita nas profundezas do nosso ser e é lá que permanece através dos tempos. Também é uma chamada de atenção para que reconheçamos os nossos próprios talentos, as nossas capacidades e para nos auto-afirmarmos, pois se não gostarmos de nós quem gostará?

 

“- «Admirar» quer dizer o quê?”

- «Admirar» quer dizer que reconheces que eu sou o homem mais bonito, mais bem vestido, mais rico e mais inteligente de todo o planeta.”

 


O Bêbado

  • Complexado
  • Tímido

 

Simboliza a falta de força de vontade e de superação humana. O bêbado é uma personagem complexada, que bebe para esquecer, afoga-se no vício da bebida porque tem vergonha de ser bêbado e então acaba por se fechar num círculo vicioso. O círculo fechado em que se encontra esta personagem é uma porta aberta a como um problema nos pode levar a um beco sem saída se não nos empenhamos em superá-lo.

O seu desabafo é um alerta contra o vício nas mais diferentes formas com que se manifesta. Todos temos os nossos vícios. Um vício é um hábito frequente que normalmente desenvolvemos para esquecer ou fugir daquilo que não nos agrada naquilo que somos. Alguns vícios são menos saudáveis que outros. E há aqueles que são uma doença, e essa doença caracteriza-se pela dependência do hábito que se adquiriu não pelos resultados alcançados, mas pela própria distorção do seu propósito, ou seja, muitas vezes já não sabemos o que nos levou a estabelecer um vício.

Representa também a incapacidade que por vezes temos para enfrentar as pessoas e os problemas, e como muitas vezes buscamos soluções fáceis e provisórias. Mostra-nos que enfrentar os problemas com soluções aparentemente fáceis não erradica o problema, só o adia e como consequência estamos sempre a deparar-nos com ele, o tal ciclo vicioso. Há que buscar saídas diferentes, buscar soluções definitivas e não sermos como o bêbado que se conforma com o problema, que se lamenta e que sofre com o seu problema. O que fazemos muitas vezes é evadirmo-nos da realidade, o que nos leva a uma confusão de objectivos. Por exemplo, no caso da nossa personagem o principal objectivo do seu problema seria deixar de beber, mas o que ele faz é focar a sua atenção na vergonha que isto lhe produz. Então a solução para um caso como este, e não só, para todo e qualquer problema seria identificar a causa do vício para podermos posteriormente trabalhar sobre o efeito e erradicá-lo. É importante que tomemos o desabafo desta personagem como um alerta contra todos os vícios.

 

“- E estás a beber porquê?- perguntou o principezinho.

- Para me esquecer- respondeu o bêbado.

- Para te esqueceres de quê?- perguntou o principezinho, que começava a ter pena dele.

- Para me esquecer que tenho vergonha- confessou o bêbado, baixando a cabeça.

- Vergonha de quê?- tentou saber o principezinho, cheio de vontade de o ajudar.

- Vergonha de beber!- concluiu o bêbado, fechando-se definitivamente no seu silêncio.”


O Homem de Negócios

  • Avarento

 

Podemos dizer que de certa forma esta personagem é semelhante ao rei. A diferença é que o homem de negócios diz possuir as estrelas e o rei diz governá-las. Este passa a vida a contar as suas estrelas que lhe servem para ser rico mas ao mesmo tempo não lhe trazem felicidade.

Representa a vontade de possuir bens materiais, muitos dos quais até inúteis, que servem simplesmente para se ter mais que os outros. O ser humano com estas características está tão ocupado a contar o tamanho da sua riqueza que não aproveita a vida. O Principezinho faz-nos ver que o desejo de possuir também é um vício. E que o importante é valorizar o que somos e não o que possuímos.

É uma chamada de atenção ao facto de que cada vez mais nos deixamos robotizar, de que não damos valor às pequenas coisas, de que não dedicamos tempo a cuidar do nosso ser interior. Ao facto de deixarmos que a cobiça e o egoísmo se apoderem da nossa vontade, traduzindo-se então na perda de valores afectivos, familiares e inclusive morais e éticos, provocando muitas vezes a solidão, a insatisfação, a infelicidade e o vazio interior. Por isso muitas pessoas se sentem assim hoje em dia mesmo vivendo nas melhores das condições, pois a felicidade reside no ser e não no ter.

Segundo o Principezinho as coisas que se possuem verdadeiramente são aquelas com que se pode interagir e portanto ser-lhes úteis também. Uma amizade plena de ternura, compreensão e cumplicidade é superior aos bens materiais que acabam por fazer de nós escravos do trabalho e incapazes de disfrutar deles de verdade.

 

“-E para que te serve teres estrelas?

-Serve-me para ser rico.

-E para que te serve seres rico?

-Para comprar outras estrelas, se alguém as descobrir.”

(…)

“-Eu, cá por mim, tenho uma flor. Rego-a todos os dias. Tenho três vulcões. Limpo-os todas as semanas. Porque também limpo o que está extinto. Nunca se sabe… É útil para os meus vulcões e é útil para a minha flor que eu os tenha. Mas tu não és útil para as estrelas!”


O Acendedor de Candeeiros

  • Trabalhador
  • Fiel
  • Obediente

Representa a rotina que não muda e que nós próprios também não tentamos mudar, que nos consome e desgasta física, psicológica e mentalmente e muitas vezes fazendo coisas inúteis, sem sentido para nós.Ainda assim, para o principezinho este é o menos ridículo de todas as personagens pois ocupa-se de algo alheio a si mesmo, ou seja, que não serve para seu próprio benefício.

É um homem trabalhador e fiel às ordens e por isso um bom homem, pois um bom homem cumpre com o seu dever. O problema é que por vezes, as ordens precisavam ser renovadas e não são, e então, o bom homem passa a ser insensato pois não é capaz de discernir se o que está a fazer ainda é útil ou se simplesmente passou a não ter razão de ser. É que o Universo está em constante evolução, e como tal, o homem, as crenças e as relações humanas também, e o que acontece é que muitas vezes nós somos este acendedor de candeeiros que não tem o bom senso de questionar a razão de ser das coisas e trabalha sem parar, mesmo sabendo que o que faz não tem qualquer sentido ou utilidade.

Por vezes temos um amigo ao nosso lado e não o vemos, pois estamos assoberbados de tarefas, muitas vezes sem sentido, para concretizar, não retirando portanto qualquer proveito do nosso dia-a-dia pois o trabalho por si só não nos satisfaz e ao mesmo tempo rouba-nos o tempo para o que realmente importa.

Por outro lado, às vezes, prendemo-nos de tal modo às nossas ocupações que achamos que o mundo não funcionará sem a nossa contribuição e então sentimo-nos importantes, imprescindíveis, como uma engrenagem no funcionamento desse mundo, e vamos acumulando mais responsabilidades, de modo que o tempo se vai esvaindo. Quando vemos, estamos num ritmo tão acelerado que já não conseguimos parar. Precisamos aprender a respeitar o nosso próprio ritmo e não abraçar mais responsabilidades do que aquelas que as nossas forças permitem, pois só dessa forma seremos realmente úteis à humanidade.

Então devemos olhar em redor e procurar realizar o que realmente é importante, valorizar o nosso entorno, e adaptarmo-nos à evolução quer da natureza quer da humanidade no geral e agir livremente conforme essa evolução.

 

“-Olá, bom dia!

-Bom dia!

-Olá, bom dia! Porque apagaste mesmo agora o teu candeeiro?

-São as ordens que tenho -respondeu o acendedor.

-Ordens? Que ordens são essas?

-Para apagar o candeeiro. Boa noite!

E voltou a acendê-lo.

-Mas porque voltaste a acendê-lo?

-São as ordens que tenho -respondeu o acendedor.

-Não percebo -disse o principezinho.

-Não há nada para perceber. Ordens são ordens.”


O Geógrafo

  • “Importante de mais para andar a vadiar”
  • Sábio
  • Inteligente
  • Estudioso

 

 

O geógrafo representa todas aquelas pessoas que cultivam demasiado o intelecto, mas não aplicam os conhecimentos e ao mesmo tempo passam a vida a questionar aqueles que ousam explorar e agir. Representa aquelas pessoas que ficam à espera de ver comprovadas as suas teorias através de outras pessoas, e que ficam comodamente à espera que as coisas aconteçam. O autor pretende mostrar-nos que o conhecimento por si só não serve, os livros não nos dão a experiência de vida, só o dia-a-dia e o contacto com as pessoas e com a natureza. Pode de facto haver pessoas muito inteligentes, possuidoras de muitas técnicas a nível intelectual, mas se não agimos, se não saímos de casa essa sabedoria torna-se incompleta. Não esqueçamos que o excesso de conhecimento associado à falta de vivência pode ser um comportamento danoso, tal como quando um rio estagna porque o seu caudal de certa forma deixou de fluir.

 

“-Sou um geógrafo -respondeu o senhor de idade.

-E o que é um geógrafo?

-É um cientista que sabe onde ficam os mares, os rios, as cidades, as montanhas e os desertos.

-Que interessante! -disse o principezinho.- Isto, sim, é uma profissão!- E pôs-se a olhar à volta: nunca tinha visto um planeta tão majestoso.

-É bem bonito, o seu planeta. Tem algum Mar?

-Não faço ideia -respondeu o geógrafo.

-Ah! -o principezinho ficou muito desiludido. -E montanhas?

-Não faço ideia -respondeu o geógrafo.

-E cidades e rios e desertos?

-Também não faço ideia -respondeu o geógrafo.

-Mas o senhor é geógrafo!

-Pois sou, mas não sou explorador -disse o geógrafo.”


A serpente

  • Sábia
  • “Muito mais poderosa do que um dedo de um rei”

A serpente é um animal que desde sempre aparece associada à morte…. Mas também à tentação de conhecer a verdade (como a serpente que tenta Adão e Eva com a maçã do conhecimento) e com a sabedoria. Aparece muitas vezes relacionada com a ciclicidade e com o eterno quando surge como uma serpente que morde a própria cauda. Neste contexto, ou seja, na obra ela realmente surge como representação da morte, o único mistério que o homem não pode conhecer até que chegue o momento. Mas na obra não se fala da morte como algo trágico, fala-se dela como algo que inevitavelmente acontecerá. A morte não surge como um fim, mas sim como um meio do Principezinho regressar a casa, pois segundo esta, só ela é capaz de devolver ao local onde pertence todo e qualquer ser, representando então o início de um novo ciclo.

Embora fale sempre por enigmas, a serpente é a personagem mais franca de toda a história. Pois desde que conheceu o Principezinho lhe disse que tinha o poder de o devolver à sua terra simplesmente com o seu toque, no entanto, ela respeita o que é puro e verdadeiro e dá-lhe portanto o poder de decisão.

 

“-Se um dia tiveres muitas saudades do teu planeta, eu posso ajudar-te. Posso…”

-Oh! Escusas de continuar, eu já percebi! – disse o principezinho. – Mas porque só falas por enigmas?”


A raposa

  • Sábia
  • Amiga
  • Responsável

 

A raposa é uma peça essencial e de extrema importância na obra. É com ela que o principezinho aprende o valor da amizade e dos laços de união que se criam entre as pessoas. Ensina-lhe como funciona todo o processo de conhecer os demais, descobrindo que o outro é importante para nós, assim como nós somos importantes ao nosso semelhante também.Com a raposa podemos aprender que quando criamos laços com alguém, ficamos ansiosos, impacientes, agitados e desejosos de que chegue o momento de estarmos juntos de novo, e isto é importante, pois significa que somos um entre mil para esse alguém e vice-versa. Se num mundo tão grande somos tantos os seres que permanentemente chocam uns com os outros, se nos empurramos sem sequer nos saudarmos, sem sequer levantar os olhos para ver quem está ao nosso lado, como poderemos distinguir-nos no meio de tantos e tantos seres humanos? O que nos distingue é o que nos ilumina, é a luz que nos embelece e ao mesmo tempo afecta o nosso semelhante. Esta luz é o resultado de algo muito importante que a raposa ensina ao principezinho, é o resultado do processo de cativar, tarefa imprescindível para captar a verdadeira essência da amizade, que por sinal é um processo moroso e difícil, pois os amigos não se compram, cultivam-se diariamente. Com a raposa o Principezinho aprende que apesar de existirem milhares de rosas como a sua, a dele é única, e foi o tempo que ele lhe dedicou que a fez tão diferente e importante. Cativar significa conquistar e é um processo que requer responsabilidade. Responsabilidade por um amor, por um amigo, por um ideal de vida e por tudo aquilo que conquistamos a nível individual. Somos responsáveis por aquilo que cativamos, e muitas vezes, é necessário que personagens como o principezinho e a raposa nos lembrem.

Aprendemos também a importância dos ritos e que estes fazem parte da existência humana. O ser humano, como ser social que é, necessita de manifestações externas para se relacionar com o mundo e com os seus semelhantes.

Através dos ritos, o ser humano guia a sua própria existência e coloca ordem na sua vida, que muitas vezes se encontra completamente desordenada, e ordena também as suas relações, muitas vezes turbulentas, com os demais. Um rito é uma acção, mas há que ter em conta que vivemos cheios de rotinas, e isto é um perigo, pois a rotina leva à mecanização e nós temos de deixar de ser máquinas. Não confundamos rito com rotina, pois os rituais trabalham directamente com o nosso ser interior e provocam-nos crescimento interior ao contrário das rotinas que já vimos que nos levam à mecanização. Podemos vê-los como um antídoto para a rotina, pois estes permitem-nos romper com a uniformidade e a monotonia da existência humana. Sem ritos deixamos de gerar acção, perdemos a consciência de que estamos vivos, porque estes são uma forma de sentir a força e a capacidade transformadora que o individuo tem. Os ritos estão presentes em tudo, não nos esqueçamos que toda a natureza é movida por ritos, por exemplo as estações do ano, os ciclos lunares, o nascer e o pôr-do-sol, tudo fenómenos visíveis e essenciais que permitem e promovem a renovação e revitalização da natureza.

Segundo a raposa é o rito que faz com que todos os dias e todas as horas sejam diferentes.

A raposa também ensina uma outra lição ao Principezinho, e por consequência a nós. Ela ensina:

“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.” Pois a individualidade consegue-se nas pequenas coisas, nos detalhes que muitas vezes são esquecidos. Detalhes como um simples sorriso por exemplo, os pequenos detalhes são o que torna um ser único, e gestos como este, um simples sorriso, muitas vezes passam despercebidos ao olhar, é preciso sentir o calor desse sorriso nos nossos corações. O verdadeiro amigo é aquele que vê com os olhos do coração e transcende às aparências físicas, às posses materiais para buscar desinteressadamente o verdadeiro bem para o outro, isto é a verdadeira amizade, então, encontrar um verdadeiro amigo é como que encontrar um tesouro que queremos muito guardar a sete chaves para não o perder.

 

“ (…) “Cativar” quer dizer o quê?

-É uma coisa que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer “criar laços”…

-Criar laços?

-Sim, laços – disse a raposa. – Ora vê: por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti…”

(…)

“-Só conhecemos o que cativamos – disse a raposa. – Os homens deixaram de ter tempo para conhecer o que quer que seja. Compram as coisas já feitas aos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens deixaram de ter amigos. Se queres um amigo, cativa-me!”

(…)

-Era melhor teres vindo à mesma hora – disse a raposa. – Por exemplo, se vieres às quatro horas, às três, já eu começo a estar feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sinto. Às quatro em ponto hei-de estar toda agitada e toda inquieta: fico a conhecer o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca vou saber a que horas hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito… Precisamos de rituais.

-O que é um ritual? – disse o principezinho.

-Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – É o que torna um dia diferente dos outros dias e uma hora diferente das outras horas.(…) ”

 

 

Conclusão

 

Como pudemos ver, o Principezinho é uma obra muito bela e de uma poeticidade deslumbrante que nos mostra uma profunda mudança de valores e que nos ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Entregamo-nos às nossas preocupações diárias, tornamo-nos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos. "O Principezinho" é uma obra eterna e como tivemos a oportunidade de constatar compreende uma série de metáforas que precisam ser compreendidas para entender plenamente o sentido da obra, hoje, é um privilégio partilhar convosco a minha visão e interpretação pessoal desta obra maravilhosa, mas este facto não exclui que esta mesma obra possa ser interpretada por diferentes pessoas, de diferentes formas. Cada opinião e cada reflexão são uma verdade, não havendo uma forma exclusiva de ver e interpretar os ensinamentos que o autor faz, nem alguém que possa dizer que a sua visão é a mais correcta.

Reler esta obra foi simplesmente delicioso para mim, e devido à sua riqueza, sempre que lhe pego descubro uma nova chave de interpretação, uma nova metáfora, um novo ensinamento, o que me leva a crer que esta obra é eterna, e que como tal, sempre que se pensa chegar ao fim, na verdade a sua interpretação está simplesmente a recomeçar.

Não se esqueçam que dentro de cada um de nós há um principezinho, e a nossa missão como seres na busca da evolução é trazê-lo à luz, é dar-lhe força, e não tenham receio de voltarem a ver as coisas sob o prisma de uma criança, pois estas não têm dúvidas, sabem o que querem e lutam para conseguir concretizar os seus objectivos. Elas vêem no seu semelhante a oportunidade de fazer um amigo, não têm medo de ser felizes e entregam-se de corpo e alma à vida. Saint-Exupéry ensina-nos que o que a Humanidade mais necessita não é conseguir que uma criança pense como um adulto mas sim que um adulto sinta e pense como uma criança, de uma forma desinteressada, plena e verdadeira.

Gostaria também de vos convidar a retomar alguns ritos a partir deste momento, ritos tão simples como sentar-nos à mesa e partilharmos comida e não só, aproveitarmos o momento para partilhar acima de tudo a experiência adquirida ao longo do nosso dia-a-dia; acarinharmo-nos, conversarmos e rirmos juntos; saudar as pessoas na rua e torná-las únicas com o nosso gesto. Enfim este é um convite a viver cada dia como um ritual, dando importância às pequenas coisas, imprimindo-lhes força, vontade e amor. E assim, como a raposa do Principezinho, ajudar a potenciar a vida tornando uns dias diferentes dos outros.

O principezinho é assim, uma viagem iniciática, de procura e descoberta do que é realmente importante e essencial. E “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. É uma obra transversal a todas as gerações onde se valoriza o tema da amizade, do amor e do sentido da vida.

 

Sónia Oliveira

 


publicado por Psiqué às 18:07

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Quinta-feira, 19 de Abril de 2012

Sobre a Liberdade

Um destes dias estava a ler "Manual de Vida" de Epicteto, que desde já recomendo, pois nele conseguimos encontrar conselhos práticos para os dias de crise em que vivemos, e parei ao ler um dos seus pensamentos, ele dizia sobre a liberdade:

"A liberdade não é o direito ou a capacidade para fazer o que nos dá na gana. A liberdade surge da compreensão dos limites naturais estabelecidos pela divina providência. Ao aceitar os limites da vida e os seus aspectos inevitáveis, e ao trabalhar com eles ao invés de lutar contra os mesmos, libertamo-nos. Se, por outro lado, sucumbimos aos nossos desejos por coisas que não se encontram ao nosso alcance, perdemos a liberdade.”

Somos livres na medida em que nos conhecemos e nos propomos á mudança que é natural àqueles que se predispõem a este conhecimento interior. Somos livres na medida em que aceitamos as leis universais da natureza como parte de nós. Como Epicteto dizia ser livre não é fazer o que nos dá na gana, isto não é ser-se livre, é ser-se rebelde, e liberdade e rebeldia são dois conceitos totalmente diferentes. Pois liberdade é um acto de aceitação, visto que só na medida em que aceitamos o nosso destino é que conseguiremos a liberdade, já rebeldia é um acto de oposição, de teimosia, de não-conformação, que normalmente nos leva a viver fora do controle.

Epicteto também dizia: ”A liberdade é a única meta valiosa na vida”


publicado por Psiqué às 10:29

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Quarta-feira, 5 de Maio de 2010

Estou de volta!

Resolvi hoje, depois de tanto tempo, dar noticias! E para ser honesta, neste preciso momento ainda não sei sobre o que falar. É dificil, pois quando criei este blog, a minha intenção era de alguma forma poder chegar ao coração de todos vós, era poder tocar a vossa alma com temas práticos mas ao mesmo tempo profundos. Foi tarefa árdua manter a calma e serenidade quando uma época de mudança se avizinhava, mas após tanto tempo de reflexão, cheguei à conclusão que mudar também significa renascer, e que não devemos ter receio do desconhecido, é certo que por vezes as mudanças implicam perdas, mas ao invés de chorar sob o que se perdeu, devemos antes acreditar que estas perdas darão lugar a novos valores, a uma nova força, a uma nova vitalidade. Acredito que estas mudanças por vezes também implicam abrandar a caminhada na direcção daquilo que são os nossos objectivos finais, mas abrandar não significa parar, a meu ver abrandar é sinal de que ou nos precipitámos na caminhada, ou que por algum motivo nos perdemos e abrandámos para procurar o melhor caminho. É bom saber que não estamos sozinhos, é bom ter alguém que nos dê a mão quando caímos, que nos dê uma palavra amiga. Considero-me uma pessoa rica, pois tenho uma arca onde guardo um tesouro muito valioso, um tesouro que fui juntando ao longo dos anos, este tesouro não são moedas de ouro nem pedras preciosas, são sim os meus irmãos de ideal, o meu "mestre", e sobretudo aquele que considero o pilar que sustenta o meu templo, o meu ser.

É bom estar de volta! Espero doravante presentear-vos com temas interessantes.

Até sempre!


publicado por Psiqué às 20:31

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Sábado, 5 de Dezembro de 2009

Que opções tem o homem na vida? Um caminho até uma Nova Liberdade!

Saudações!

 

Depois de um espaço de tempo tão longo sem saber o que partilhar convosco, finalmente senti a necessidade de o fazer.

É extremamente complicado escrever quando o nosso ser se encontra soterrado nas tarefas do dia a dia, nas preocupações da vida, o processo de libertação não é tão rápido como eu gostaria, mas finalmente, a minha alma sentiu a necessidade de se expressar.

Como sabem eu faço parte da Nova Acrópole há já algum tempo, e no passado mês tive o privilégio de poder expressar a minha alma através de uma conferência/tertúlia em comemoração do Dia Mundial da Filosofia, na Sede da Nova Acrópole em Aveiro.

Gostaria de partilhar convosco as reflexões que fiz sobre o tema. O artigo é um pouco extenso, mas creio ser muito útil.

Que opções tem o homem na vida? Um caminho até uma Nova Liberdade!


Neste dia dedicado à filosofia e por consequência a todos nós, como pequenos filósofos que somos, pensei debatermos este tema: Que opções tem o homem na vida? Um caminho para uma nova liberdade!
Na Nova Acrópole acreditamos que todo o homem carrega dentro de si um filósofo, mesmo que as adversidades da vida não lhe tenham permitido doutorar-se em filosofia, mesmo sem doutoramento ele é filósofo, é-o porque ama a verdade, é-o porque ama a realidade seja ela qual for. Eu acredito que todos nós carregamos dentro de nós o potencial para buscar essa verdade, só o desconhecemos. O que necessitamos é que de quando em vez, alguém com mais experiência e conhecimento de causa, ou seja, alguém que já encontrou em si, esse potencial, nos lembre que ele está em cada um de nós, só temos que o deixar aflorar.
Pois bem, que opções tem o homem na vida é um tema muito antigo, uma vez que desde que o homem é homem se tem perguntado sobre isto.
Questionarmo-nos o porquê das coisas é próprio do ser humano, é próprio de um filósofo, é uma voz que vem de dentro, é uma inquietude filosófica, por isso é natural que nos perguntemos quem somos, que fazemos aqui, que opções temos, porque nascem uns ricos e outros pobres, porque morrem os bons e ficam os maus?
Estas são perguntas para as quais encontrar respostas é fundamental, e para isso, temos que buscá-las dentro de cada um de nós, mas buscá-las verdadeiramente. Pois o que fazemos muitas vezes é agarrar-nos demasiado às questões ao invés de buscar soluções e então, fazemos com que estas se tornem ciclos viciosos na nossa mente.
Para encontrar respostas há que primeiro superar a pergunta, há que perceber e dar-lhe o seu verdadeiro valor, há que reconhecer que a pergunta em si é um motivo, é um meio para atingir um fim, mas não é o fim. Buscar soluções é próprio de um homem livre, é próprio do filósofo, é próprio daquele que constrói o seu caminho, é certo que muitas vezes não sabemos que direcção tomar, não sabemos o mais correcto a fazer, mas aí, devemos pensar que no mínimo temos duas opções na vida: uma é deixarmo-nos robotizar, é tornarmo-nos um ser meramente físico, é deixarmo-nos levar pela corrente, é deixarmo-nos dominar pelo vento, e a outra, é tornar-nos um ser pensante, é dominar o vento e vencer a corrente.
Reflictamos:
Se colocarmos um tronco de madeira e um barco na água, ambos flutuam e ambos podem levar pessoas em cima, no entanto, o tronco de madeira deixar-se-á arrastar pela corrente e dominar pelo vento e embaterá nas rochas e nas margens do rio, enquanto o barco navegará mais além da corrente, vencerá o vento e desviar-se-á das rochas que lhe surgem no caminho, e porquê? Porque tem um timoneiro, porque tem um ser pensante que o dirige, porque tem um ser espiritual, um ser superior, porque tem uma alma que o leva em frente.
Temos então que ser o timoneiro da nossa própria barca e avançar apesar das tormentas. Um dos piores problemas que temos de enfrentar nos dias de hoje é o medo a ser timoneiro.
O medo é um estado psicológico da alma, é um mecanismo instintivo que naturalmente nos faz colocar à defesa, no fundo é um instinto de sobrevivência. Então por medo ao desconhecido muitas vezes o homem opta ser dirigido ao invés de aprender a dirigir. Não podemos esquecer-nos nunca: O medo escraviza o homem, temos de aprender a arte de vencer o medo, temos de nos tornar valentes, dignos e puros. Assim, superando o medo vamos ser capazes de controlar-nos a nós mesmos e construir o nosso próprio caminho apesar das adversidades da nossa própria vida e do mundo circundante. Superando o medo podemos finalmente tomar as rédeas do nosso próprio destino, tornarmo-nos mentores da nossa própria vida, podemos enriquecer, quando falo em enriquecer não quero como é óbvio abordar o campo económico, pois não é de todo o mais importante, falo de enriquecer espiritualmente, ou seja, de crescer interiormente, pois é nessa força interior que devemos ir buscar as soluções para as questões que nos atormentam, não devemos buscar soluções nos outros, encontrando as nossas próprias soluções vamos deixar de nos curvar perante os falsos amos das nossas vidas, vamos despertar para o verdadeiro sentido da vida, vamos despertar em cada um o Homem Interior, aquele que jamais se curva perante os falsos amos, perante as adversidades, aquele que opta por erguer a sua espada e lutar em prol da Grande Cruzada Espiritual que é Conhecer-se a si mesmo;
Na Nova Acrópole acreditamos que a Liberdade existe, acreditamos que esta não é mais um conceito inventado pelo homem, ou seja, a ideia da liberdade tem acompanhado o homem através dos séculos, assim como o conceito do fogo, da água, do ar, do sol, estes conceitos não foram inventos do homem, simplesmente fazem parte da Natureza, assim aconteceu com a liberdade.
Como aprendiz de filósofo creio que esta liberdade existe, caso contrário não existiria o livre arbítrio, nem a oportunidade de acertarmos ou de nos equivocarmos. A partir do momento em que nós, como homens, temos o direito de acertar ou errar, temos a liberdade de actuar ou não. O maior problema é que sempre ficamos à espera que a liberdade venha do exterior, ou seja, de algo que não dependa de nós, quando pelo contrário deveríamos concluir que a liberdade deveria ser um acto interior, algo que partisse de cada um de nós.
Quando falamos de liberdade, normalmente sempre dizemos que ninguém é totalmente livre uma vez que estamos sempre condicionados a algo. Esta afirmação não deixa de ter o seu “quê” de verdade, uma vez que formamos parte de uma sociedade que nos condiciona quer a nível social, político, económico e o pior de tudo é que muitas vezes acaba por nos condicionar a nível individual também.
Infelizmente chegamos a uma espécie de comércio espiritual onde a felicidade de uns depende da infelicidade de outros, onde para nos libertarmos de uma jaula acabamos por nos colocar dentro de outra. Temos que ser capazes de buscar uma forma de felicidade que não prejudique o próximo, temos que nos conseguir libertar do mundo consumista em que vivemos.
Por certo, neste momento muitos de vós estarão a pensar: “Qual será então a solução para caminhar face a uma nova Liberdade?”
O primeiro passo será sem dúvida converter o conceito de liberdade intelectual em liberdade vivencial, o que quero dizer com isto é muito simples, temos de começar a viver a liberdade verdadeiramente, ou seja, temos de deixar de pensar sobre ela e começar a vivê-la. Ao pensar sobre ela estamos a negá-la, a limitá-la. Então, a nossa responsabilidade quotidiana será começar a viver segundo a nossa vontade, mas quando falo em vontade não me refiro ao eu quero posso e mando, não, refiro-me a uma vontade superior, que, se manifestada nos fará agir em consonância com as leis da natureza.
Desculpem eu insistir sobre isto, mas creio que é fundamental, para conseguirmos viver esta liberdade perguntarmo-nos quem somos, que fazemos aqui, que opções temos, porque nascemos? Temos que compreender que não somos o nosso corpo, não somos a roupa que vestimos, nem a casa que possuímos, ou o carro que adquirimos, não somos a profissão que desempenhamos. Temos que compreender que o que possuímos não representa o que sou, compreendamos que apesar da dor, das dificuldades, das armadilhas da vida, continuamos vivendo, continuamos sentindo, continuamos sonhando.
Temos então que conquistar a dignidade, pois esta é o que nos verticaliza, é o que nos torna diferentes dos outros animais, é o que nos leva de encontro a um Mundo Novo. Na busca de uma Nova Liberdade devemos procurar então, conhecermo-nos e dignificarmo-nos assim como aos demais, pois todos temos direito a um mundo mais justo e luminoso.
Falava há pouco de ser livre, mas obedecer às leis da Natureza, então se tenho que obedecer como posso ser livre?
Peguemos num exemplo prático, o sol, há alguém que consiga tocar o sol com a mão? Ninguém… é verdade! Sem dúvida o sol obedece aos seus ciclos, ciclicamente este aparece e desaparece, segue o seu curso através dos astros, preso à sua galáxia, à sua via láctea, no entanto, não deixa de ter a sua liberdade, por um lado sujeito às leis da Natureza, mas por outro forte, intocável e irradiando luz à humanidade.
Então, queiramos ser como o sol, fortes, intocáveis e luminosos. Não nos deixemos tocar pelo medo à mudança, permitamo-nos crescer e irradiar luz. É esta a grande liberdade que vos proponho, hoje, neste dia dedicado à filosofia, uma liberdade que não se baseie em formas intelectuais, mas sim em vivências individuais e colectivas das leis da natureza.
Platão dizia:”Só a obediência nos fará livres.” Mas não a obediência a um semelhante, não a obediência a jaulas nem que estas nos pareçam de ouro, mesmo sendo de ouro são jaulas, falo da obediência à lei natural que levamos dentro de cada um de nós.
Para concluir gostaria então, não de vos dizer que opções tem o homem especificamente na vida, pois a vida de cada um é para ser construída por si só, mas sim dizer-vos que todos temos a opção de assumir esta nova liberdade, uma liberdade onde cada qual obedece à sua sã e recta consciência.

 

Obrigada Nova Acrópole por  dares a oportunidade à minha alma de se expressar livremente!
 


publicado por Psiqué às 13:51

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Domingo, 30 de Agosto de 2009

Filosofia para quê?

Agora que o inicio de uma nova etapa se avizinha, uma etapa onde estamos mais leves e rejuvenescidos, é a altura ideal para apostar em algo diferente, em algo que nos faça crescer a alma, para isso recomendo vivamente o curso de filosofia da Nova Acrópole, para os interessados, sei que já estão inscrições abertas e iniciará no final de Setembro.

Perguntar-me-iam agora: Filosofia para quê? E eu responderia…

 

PORQUE FILOSOFIA?

A vida é suficientemente complexa, para lhe introduzirmos complicações artificiais. Queremos respostas simples, mas profundas e certeiras e, já agora, interessantes e bem-humoradas. Hoje parece que ninguém sabe a maravilhosa arte de viver. Os instintos conduzem… contudo, ninguém é detentor do saber. Neste nosso momento particular, como pode ajudar a Filosofia?

A Filosofia serve para valorizar a vida e não deixar-se somente levar por ela. Serve para encontrar um respeito profundo por todos os seres vivos. Não ganharemos a vida economicamente, mas teremos ganho a sabedoria suficiente para viver e a nossa própria segurança interior será a paga. A filosofia é a grande educadora; ensina-nos a viver. Com a filosofia não vamos chegar a ser sábios, mas pelo menos teremos menos temores, menos dúvidas do que tínhamos antes; não vamos atingir a grande verdade, mas começaremos a ter algumas certezas. Quem sou, o que faço aqui, porque existo, de onde venho e para onde vou, são formas de aprender a viver, a Arte de Viver é questionar-se todos os dias. É entender porque sofremos, porque há dor, porque há alegria. E a filosofia pode ajudar-nos a encontrar as respostas. Coloca-nos no caminho do conhecimento e gradualmente dá-nos as ferramentas necessárias para construirmos o nosso caminho.

Quem necessita de Filosofia? Todos!

 

Associação Cultural Nova Acrópole de Aveiro

Curso
Filosofia e psicologia Prática

Conhece-te a ti mesmo - Um caminho estratégico para a vida
Informações e inscrições através dos tel. 234 382 081|93 178 32 34

ou do e-mail aveiro@nova-acropole.pt


publicado por Psiqué às 14:27

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Quarta-feira, 1 de Julho de 2009

Ser Herói

Hoje, divagava relendo os meus pequenos posts, sem saber sobre o que escrever, quando repentinamente senti a necessidade de escrever sobre o sentido do Herói.

O que é ser herói?

Herói é aquele que procura  virtudes que  cada vez se tornam mais ausentes no homem, virtudes tais como a  fé, a coragem, a força de vontade, a determinação, a paciência, etc, é aquele que se deixa guiar por ideais nobres e altruístas, tais como a fraternidade, a justiça, a moral, a paz, entre tantos outros, ou seja, resumidamente ser Herói é ser forte e destemido, é ter coragem de lutar contra os dragões que vivem dentro de nós, é ter coragem de despir a armadura que envergamos.

Há algumas semanas atrás, tive a oportunidade de efectuar uma actividade para crianças no âmbito da Mitologia Grega, actividade esta que a Nova Acrópole me proporcionou realizar. Resolvi contar o Mito de Hércules, pois achei ser o melhor para iniciar este ciclo que pretendo continuar num futuro próximo, achei ser o melhor precisamente para poder abordar com as crianças o tema da heroicidade e da falta de heróis hoje em dia.

Foi sem dúvida uma tarde inesquecível, pois consegui captar a atenção destas crianças, que me olhavam e ouviam com todos os sentidos despertos. Um dia, fiz esta questão a alguém que considero uma mestra: “O que fazer para incutir valores nas crianças de hoje?” e nunca mais esqueci as suas palavras, respondeu-me dizendo: “Fala-lhes como falas aos adultos!”, naquele momento as suas palavras foram “ouro sobre azul”, desde então tenho tentado chegar até elas e fazê-las ver a importância de valores que hoje começam a estar perdidos. Durante essa tarde, e com um exemplo do que é ser herói, através de Hércules, falei-lhes da importância de honrar compromissos, de assumir responsabilidades, da importância do esforço para obter bons resultados, e da coragem.

É impressionante como às vezes é mais fácil fazer com que as crianças entendam do que os próprios adultos, pois vivemos presos às desculpas de sempre, “não posso , tenho de dedicar-me ao trabalho”, ou então, “já não tenho a certeza se é este o caminho que quero seguir”, ou, “não tenho tempo para mim sequer, como posso continuar…”,  “não me sinto bem”, enfim são tudo pontos de solda que cada vez vão solidificando mais a nossa armadura. São pequenos problemas que não nos deixam ser herói, mas o mais grave de todos, eu considero ser o desistir, às vezes desistimos das coisas pensando ser o melhor a fazer, mas a meu ver, o facto de o fazermos só vai causar angústia e descontentamento. A partir do momento em que desistimos de algo, esse algo começa a entrar no esquecimento, até que acaba por desaparecer na totalidade. É por isso que eu aconselho a serem Hércules, que ultrapassou os Doze trabalhos, e no final ainda seguiu lutando em prol dos que dele necessitavam. Uma vez disseram-me que eu era uma idealista, que acreditava em utopias, idealista… sim, sou, mas aquilo em que acredito não são utopias, porque eu acredito num Mundo Novo, um Mundo que nos cabe a nós construir, então a partir do momento em que haja outros idealistas como eu, pequenos heróis como eu, então o Mundo Novo deixa de ser uma utopia, e passa a ser um ponto assente.

Tenho imensa pena por aqueles que já partilharam este ideal de vida comigo e que de certa forma se começam a desprender, precisamente pela falta de um sentido heróico na vida.

 

Pensem nisto!

 


publicado por Psiqué às 23:06

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Domingo, 31 de Maio de 2009

Reflexão

 

Saudações, meus queridos amigos!

 

Um dia destes, enquanto tentava um dia mais superar-me a mim própria fazendo algo que me deixa angustiada e de certa forma irritada, acumulavam-se na minha mente um turbilhão de pensamentos.

Porque sigo fazendo isto? Porque não ponho cobro a esta situação? A conclusão a que cheguei foi sempre a mesma, porque estas pequenas situações não passam de pequenas pedras no meu caminho, e seguir em frente caminhando e superando-me é o meu objectivo.

Quando me deixo invadir por estas dúvidas, sempre penso no que os meus queridos amigos da Nova Acrópole me ensinaram. Em tudo o que fazemos há um ensinamento a retirar; É verdade que por vezes é dificil encontrá-lo, mas não é porque não se vê que lá não está, nós é que temos que aprender a ver com os olhos da alma; Claro está que só conseguiremos quando nos conhecermos a nós próprios, e quando percebermos que somos nós quem colocamos as limitações e estas não passam, por vezes de pequenos caprichos na nossa personalidade, e eu aprendi que só quando conseguir identificar em mim própria estes caprichos eu conseguirei vivenciar esses ensinamentos que se encontram camuflados nas pequenas acções do quotidiano.

É impressionante como é um processo moroso, mas aprendi também que numa escada se sobe degrau a degrau, temos que treinar a paciência e esperar pelo momento certo.

É bom ter mestres na nossa vida, mestres que nos ajudam a seguir em frente, mestres que nos dão as ferramentas necessárias para podermos construir o nosso caminho, e eu queria agradecer áqueles que considero meus mestres o facto de velarem por mim.

Até já!

 


publicado por Psiqué às 16:28

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Domingo, 17 de Maio de 2009

Contemplando a Natureza

 

Um grito da Natureza


Um destes dias, observando e escutando o esvoaçar das folhas de um velho salgueiro atrevi-me a escutar a minha alma, nunca fiz nada semelhante anteriormente, mas talvez tenha chegado o momento de ouvir o que a Natureza tem para dizer.
Contava-me este salgueiro um exemplo de vontade!
Um nascimento… Um despertar… Um acordar para a vida! Um exemplo de coragem, um acto do coração…
Contava-me a força e persistência de uma mãe… Ai… Os mistérios que a Natureza nos reserva.
Sem que o homem desse de conta algo maravilhoso aconteceu… Uma mãe deu à luz!
Deu à luz uma graciosa poldra…
Parecia impossível aos olhos do homem! De onde surgiu?... Quando?...Como passou desapercebido este acontecimento?...
Dizia-me esse salgueiro:
“-O homem não soube ler os desígnios da Natureza. Não ouviu o sussurrar da minha voz que lhe tentava despertar os sentidos, que lhe tentava dizer: Pára… observa…ouve… abre a tua mente…”
Mas o homem seguia num emaranhado de tarefas… sem notar que algo de maravilhoso estava para acontecer.
Até que chegou o momento! E aquela pequena semente que germinava há já muito tempo no ventre de sua mãe decide dizer olá ao mundo… e o homem como sempre não queria acreditar!
Dizia-me esse salgueiro que há muito ansiava poder conversar com alguém… no entanto, tantas pessoas por ali passaram, tantas debaixo da sua frondosa copa se abrigaram do sol…
Dizia-me ele entristecido: “Muitas vezes me perguntei, seriam Homens e Mulheres? Como é possível o vínculo que um dia uniu o homem e a Natureza se ter quebrado, até as crianças deixaram de ouvir a voz da Natureza… Será que um dia vamos conseguir voltar a vincular o Homem e a Natureza?”
Bem… A graciosa poldra tem já três semanas… e todos os dias eu penso neste exemplo de vontade… uma cria que superou tantas dificuldades no ventre de sua mãe… e que hoje corre brincando e desafiando o mundo a superar a crise que se apoderou dele… Decidi chamar-lhe… Esperança!
Esta pequena mas não menos importante conversa que tive com este salgueiro, despertou-me os sentidos, e desde então tenho observado mais atenta, o mundo que me rodeia. Espero poder ouvir da parte deste meu novo amigo outras histórias semelhantes, pois precisamos de exemplos, e é com as pequenas lições da Natureza que devemos aprender.


Fiquem bem… Fiquem atentos…
 


publicado por Psiqué às 21:04

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Domingo, 10 de Maio de 2009

"É uma questão de disciplina..."

“ “É uma questão de disciplina”, dizia-me, dias depois, o Principezinho. “De manhã, quando nos levantamos, lavamo-nos e arranjamo-nos, não é? Pois lá também é preciso ir limpar e arranjar o planeta. Há que arrancar regularmente os pés dos embondeiros, mal eles se distingam dos das roseiras com os quais se confundem quando são novinhos. É um trabalho muito aborrecido mas muito fácil.”


Extraído da obra “O Principezinho” de Antoine de Saint- Éxupery


Antes de mais, quero mais uma vez agradecer à Nova Acrópole por me ter dado a oportunidade de à há algum tempo atrás conhecer e trabalhar esta maravilhosa obra que à primeira vista não passa de um livro para crianças, mas que afinal de contas é um tratado filosófico, repleto de sugestões práticas para nos melhorarmos interiormente, e de facto, esta obra é um verdadeiro breviário da esperança, é um hino à transparência e inocência do coração e ao espírito de juventude.
Hoje resolvi pegar no excerto que mencionei no início deste post e reflectir novamente sobre ele, fala-nos de disciplina, de rosas, de embondeiros… mas o que é que podemos retirar daqui?- perguntam-se vocês…
A meu ver, os embondeiros relacionam-se com os vícios e defeitos da nossa personalidade que abafam a alma, isto porque, não sei se conhecem o embondeiro, (mas ele é uma árvore enorme e bastante frondosa), ora estes enquanto sementes não oferecem qualquer perigo, mas quando a semente brota, há que ter cuidado e criar formas de a controlar para que esta ao crescer não se apodere do planeta, fazendo uma analogia entre o planeta e o homem, temos que ser cautelosos, pois assim como o Principezinho fazia a higiene diária do seu planeta, também nós necessitamos de criar formas de realizar esta higiene, necessitamos de criar formas de combater os vícios da personalidade, não podemos deixar que nos abafem a alma.
O Principezinho diz “é uma questão de disciplina…”, ou seja, devemos criar o hábito de limpar a nossa personalidade, para isso devemos estar atentos, e ver onde começam a rebentar os embondeiros, conseguir torná-los em árvores bonitas, que o são… mas quando dominadas. Não deixar no nosso jardim mais do que o necessário para que seja belo e harmónico!
“Há que arrancar regularmente os pés dos embondeiros…”, bem, penso que o essencial, é ficarmos com a ideia de que este “arrancar regularmente os pés dos embondeiros” é como que realizarmos uma limpeza interior necessária para se poder receber os nossos atributos, aquilo que há de bom em cada um de nós mas se encontra abafado por tantos rebentos de embondeiros, temos que desbastar o nosso jardim, como se faz na jardinagem, para que as flores mais bonitas de cada um possam aflorar. Para isso, temos que, primeiro identificar os embondeiros, depois afastá-los do nosso planeta, não deixando no entanto de os olhar com algum carinho, pois fazem parte de nós, devemos é ter o cuidado de os cuidar, pois quando tratados com inteligência podem ser árvores bonitas. Não nos podemos esquecer que tudo é dual.
Por hoje, não vos maço mais, se tiverem a oportunidade leiam ou releiam esta obra e meditem sobre ela, é realmente sublime.


Até sempre!
 


publicado por Psiqué às 19:55

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Domingo, 19 de Abril de 2009

Aprender com Fernão Capelo Gaivota

 

A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do voo, como ir da costa à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Para esta gaivota, no entanto, o importante não era comer mas voar. Mais que tudo, Fernão Capelo Gaivota adorava voar.”

Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach

 

Saudações caros amigos!

 

Mais uma vez me faço valer desta tão rica obra, Fernão Capelo Gaivota para falar convosco, isto porque em cada parágrafo que leio e releio, vejo um manancial de conselhos para conseguir seguir em frente neste mundo de crise, nesta Nova Idade Média que teima em instalar-se no nosso mundo. Hoje decidi reflectir sobre o parágrafo acima citado. É incrível como podemos fazer uma analogia com os dias de hoje.

Hoje em dia, a maior parte de nós não passa de mais uma gaivota do bando que tenta a todo o custo sobreviver, isto não é de todo negativo desde que em paralelo façamos algo que nos alimente a alma também, e desde que para sobrevivermos não tenhamos que prejudicar o nosso semelhante. Uma das imagens desta obra que tenho guardada na memória, é a parte em que as gaivotas do bando se atacam umas às outras por causa do alimento, nos dias que correm já muitas pessoas fazem o mesmo, e fazem-no porque ainda não descobriram o verdadeiro significado da vida, porque teimam em querer enriquecer a qualquer custo. Para a maior parte das pessoas o importante não é saber viver realmente, mas sim conseguir as coisas da maneira mais fácil possível, se possível que lhes vão ter a casa, a prova disto são as milhares de pessoas que usufruem de apoios do estado por estarem sem emprego, não é errado o estado dar estes apoios, muito pelo contrário, mas é sim errado não educarem e sensibilizarem as pessoas para a importância de aprenderem algo que as possa ajudar a sair daquela situação, e é igualmente errado as pessoas submeterem-se simplesmente a isso, ao invés de lutar por uma vida melhor.

Assim como Fernão adorava voar e se esforçava para aprender novas técnicas que o aproximassem mais e mais da perfeição, também nós devemos adorar viver, mas quando falo de viver, falo de viver com letra maiúscula, ou seja, ter um verdadeiro sentido da vida, descobrir algo que nos faça crescer, descobrir um alimento subtil, um alimento para a alma, só quando descobrirmos este alimento vivermos realmente.

Para terminar em grande deixo-vos outro parágrafo desta obra, para que desta vez sejam vocês a reflectir:

 

“- Vais começar a aproximar-te do paraíso, Fernão, no momento em que atingires a velocidade perfeita. E isso não é voar a mil e quinhentos quilómetros por hora, nem a um milhão, nem à velocidade da luz. É que nenhum número é um limite e a perfeição não tem limites.”

 


publicado por Psiqué às 22:27

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